Bufo Real

Bubo bubo


Identificação

O Bufo-real (Bubo bubo) pertence à Família Strigidae onde se incluem as aves de rapina nocturnas vulgarmente denominadas mochos e corujas. No entanto, esta espécie, com os seus 70 cm de altura, é a ave de rapina nocturna de maior porte em todo Mundo.

Distribuição

O Bufo-real tem uma distribuição muito alargada, ocorre na Europa e Ásia, nas zonas subárcticas e subtropicais, e no Norte de África. No continente europeu encontra-se na Albânia, Alemanha, Andorra, Áustria, Bélgica, Bielorússia, Bulgária, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Liechtenstein, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Moldávia, Noruega, Polónia, Portugal, República Checa, Roménia, Rússia, Suécia, Suíça, Turquia e Ucrânia (BirdLife International/European Bird Census Council. 2000, Martínez-Climent & Arroyo 2003).

Em Portugal ocorre sobretudo em áreas inacessíveis e de relevo relativamente acentuado, sendo as zonas mais remotas do interior aquelas onde o Bufo-real é mais comum. É mais frequente na faixa mais raiana de Trás-os-Montes, Beiras interiores, Alentejo e Algarve, com as melhores e mais contínuas populações a localizarem-se na bacia do rio Guadiana, nas bacias do Douro e Tejo internacionais e ainda nas serras do Sul (Barrocal algarvio e Caldeirão) (Rufino 1989, Elias et al. 1998, Costa et al. 2003, ICN em prep.)

Ecologia

Ocorre em regiões com pouca ocupação humana ou topograficamente inacessíveis, normalmente maciços montanhosos, vales rochosos e falésias litorais, sempre com presença de escarpas rochosos que constituem o seu abrigo e zona de nidificação. Pode também estar associado a zonas de baixa montanha com maciços florestais maduros que alternam com espaços de aproveitamento agro-silvo-pastoril (Snow & Perrins 1998).


Os ninhos situam-se usualmente em fissuras, cavernas, ou em plataformas rochosas, protegidas por rochas salientes, arbustos, troncos e buracos de árvores ou até no solo, em zonas declivosas; e em edifícios antigos. Por vezes ocupa os ninhos de outras aves (Cramp 1985).

Os habitats de alimentação preferidos em Portugal pela espécie, segundo Martinez et al. (1992), são áreas de relevo acentuado, ocupados com matos em geral esparsos ou de aproveitamento agropecuário extensivo, tal como noutras áreas de Península Ibérica (Cramp 1985, Rufino 1989). Procura igualmente alimento em manchas florestais abertas, bosques ribeirinhos, zonas húmidas ou alagadas, e mesmo em espaços peri-urbanos e aterros sanitários.

Dorme usualmente em plataformas rochosas e também na parte superior de árvores (o mais perto possível dos troncos) em muitos casos secas, pode também utilizar postes de electricidade, construções humanas como telhados de armazéns e ruínas. Os elementos de cada casal dormem em geral separados, a algumas centenas de metros de distância; usam 4-5 sítios regulares que servem de pontos estratégicos de vigilância e locais de nidificação alternativos. Durante a reprodução a fêmea dorme no ninho, enquanto o macho dorme perto deste. Apesar de o Bufo-real dormir normalmente durante todo o dia, pode desenvolver actividade em períodos crepusculares (Cramp 1985).

Alimentação

O Bufo-real alimenta-se principalmente de mamíferos de pequeno e médio porte (ratos, ratazanas, lagomorfos e carnívoros), aves de tamanho médio, e com menor frequência aves de rapina, répteis, anfíbios, peixes e cadáveres. Pode por vezes ocorrer canibalismo, jovens mais fracos podem servir de alimento aos pais e irmãos, mas também existe registo de adultos a serem devorados (Cramp 1985, Mikkola 1994). Caça essencialmente de noite, começando logo após o pôr do sol; no período estival tem também alguma actividade crespuscular.


Reprodução

Espécie monogâmica, a relação do casal é permanente. Ambos os progenitores cuidam das crias. Crias nidícolas. Mostra fidelidade à área de nidificação durante vários anos, mais do que um ninho pode ser utilizado dentro do mesmo território, no entanto prefere apenas 1 ou 2 ninhos (Cramp 1985). No nosso país nidifica entre Dezembro e Junho.

Factores de Ameaça

A colisão e electrocussão em linhas aéreas de distribuição e transporte de energia uma vez que espécie possui muita actividade em zonas rurais e peri-urbanas, e utiliza frequentemente apoios eléctricos como poiso de caça e dormitório.

A perseguição humana através do abate a tiro e da utilização de iscos envenenados, motivada por conflitos associados ao seu comportamento predatório, constitui um importante factor de mortalidade desta espécie.

A rarefacção das populações de Coelho-bravo provocado pelas epizootias mixomatose e pneumonia viral hemorrágica.

O abandono e alteração de diversas práticas agro-pecuárias tradicionais, caso da cerealicultura, pastoreio extensivo, pombais tradicionais conduzem a uma diminuição das populações de presas. A degradação dos habitats de nidificação e/ou alimentação devido à construção de infra-estruturas (barragens, parques eólicos, estradas), instalação de regadios, produção florestal, actividade de extracção de inertes.

A instalação de parques eólicos nas proximidades dos locais de nidificação da espécie está considerada como uma ameaça importante devido à perturbação provocada quer durante a fase de construção (ao nível da abertura de acessos e colocação de infraestruturas), quer durante a fase de exploração, dada a possibilidade de aumento da presença humana associada à abertura de acessos. Essas unidades de produção de energia eléctrica, dependendo da tipologia e localização dos aerogeradores podem ainda, durante a fase de exploração, constituir uma causa de mortalidade desta espécie devido à colisão nas pás dos aerogeradores. Em especial, se estes forem instalados nas zonas importantes em termos de nidificação e dispersão de juvenis, ou ainda nas zonas de alimentação situadas nas cumeadas das serras. Os traçados eléctricos que estão associados aos parques eólicos constituem outro problema importante devido aos subsequentes riscos de colisão e electrocussão.


A perturbação humana influencia muito a escolha do habitat de nidificação por esta espécie, que é extremamente sensível ao homem. Esta ave escolhe zonas remotas para nidificar, daí que a menor perturbação pode provocar o abandono do ninho; caso das actividades radicais, como esqui, escalada a montanhas, alpinismo, etc. (Mikkola 1994).

A falta de sensibilidade ambiental por parte de alguns sectores da população rural, como caçadores, criadores de gado, columbófilos, gestores florestais, que vêem nesta espécie um certo entrave para algumas actividades é a causa de conflitos que levam à perseguição da espécie.

A falta de conhecimento acerca dos processos da biologia e ecologia da espécie e dos seus factores de ameaça, constitui uma das maiores dificuldades em termos de programar a conservação desta espécie.

in " http://www.ajc.pt/cienciaj/n10/gevt.php3
in " http://www.ceai.rcts.pt/downloads/art_pub/posterbubo.pdf
in " http://www.icn.pt/psrn2000/caracterizacao_valores_naturais/FAUNA/AVES/Bubo%20bubo.pdf
Comentários
"Quem passa pelo Covão da Ponte não esquece, e eu que o diga. Embora já lá tenha estado noutras condições (Inverno), estes dias que passei lá recentemente foram "Show"."
Vítor Marques
Facebook
Junte-se a nós no Facebook. Deixe-nos o seu comentário ou opinião!