Cão da Serra da Estrela

Canis Familiaris

O cão Serra da Estrela é utilizado desde remotos tempos pelos pastores da Serra da Estrela para defender os rebanhos dos ataques dos lobos e acompanhava os pastores e rebanhos nas suas migrações anuais até às pastagens do Alentejo e, em alguns casos em direcção ao Douro. A Serra da Estrela, pelo seu enorme isolamento e dificuldade acesso no passado, tornou-se o solar desta magnifica raça. Sabe-se que do lado sul da Serra (Manteigas) o cão tinha o pêlo mais curto, enquanto que do lado norte, existiam em Seia e Gouveia cães com pêlo mais comprido.

No passado era frequente o cruzamento entre as duas variedades de pêlo, porque as cadelas andavam livres e o pastor não interferia nos cruzamentos; apenas guardava os cães que desempenhavam bem as funções de protecção do rebanho.

A partir de 1934, ano em que surgiu o estalão da raça elaborado pelo Professor Dr. Manuel Fernandes Marques, começou-se a fazer a distinção entre o cão de pêlo curto e de pêlo comprido.

Com o suposto desaparecimento do lobo na Serra da Estrela nos anos 60/70, consequentemente surgiam cães menos dissuasivos. Também as alterações sociais e económicas, tal como a emigração de muitos pastores para o estrangeiro na procura de uma vida melhor nos anos 60/70, levou à redução de muitos rebanhos e por pouco a raça ficou votado ao abandono. Felizmente surgiram nesses difíceis tempos passados alguns criadores que começaram a criar e a seleccionar os bons exemplares, contribuindo muito para salvar a raça. Como o cão de pêlo comprido é mais procurado, os criadores dedicaram-se sobretudo à criação desta variedade, embora se saiba que no início do século passado, os cães de pêlo curto eram mais numerosos.


História

O Cão da Serra da Estrela é uma raça canina portuguesa que, como o seu nome indica, teve a sua origem nessa região montanhosa. Foi aí que os animais que lhe deram origem se fixaram e, após múltiplas adaptações, conseguidas em gerações sucessivas, foram ganhando as suas características próprias. A data do seu aparecimento, nos então denominados "Montes Hermínios", não é possível de determinar. Sabe-se, contudo, que é uma raça muito antiga, das mais antigas da Península Ibérica.

Devido às variações de altitude, há, na Serra da Estrela, níveis de temperatura e de humidade diversos, o que faz com que o seu revestimento vegetal vá variando do sopé para o cume dos montes. Também a diferente exposição aos raios solares dos vários locais, fruto da sua orientação geográfica, diversifica a vegetação natural, que é, fundamentalmente, arbustiva. As diversas fontes existentes fazem com que a água não falte. Esses factores tornaram, desde sempre, a serra num local propício ao pastoreio.


É sabido que a sedentarização do homem nesses locais se situa na Época Medieval mas a sua utilização por ele, numa vida de pastor nómada, ao lado dos seus rebanhos, é muitíssimo mais remota. Há conhecimento de que ela é anterior ao nascimento de Cristo, pois, aquando da invasão da Península Ibérica pelos Romanos (século II a.C.) já havia pastores (os Lusitanos) que a essa invasão deram luta e que se refugiavam nas penedias. Claro que é fácil perceber-se que, em local tão afastado da ocupação humana permanente, com vegetação diversificada e abundante e com água disponível, os animais herbívoros silvestres deveriam abundar e, logo atrás deles, completando a cadeia ecológica, os predadores bravios deveriam ser imensos.

O pastor humano tinha necessidade de, no Verão, levar os seus animais para a serra, porque aí os pastos verdejavam, enquanto nas zonas de menor altitude já tinham secado.Esta ida dos animais para a serra era uma situação difícil para as espécies domésticas porque, devido à sua corpulência e à sua menor agressividade (fruto da domesticação), eram, potencialmente, presas muito apetecíveis para os predadores carnívoros. As dificuldades que os pastores tinham para defender os seus rebanhos seriam, certamente, imensas, até porque não podiam utilizar armas de fogo (pois elas ainda não tinham sido inventadas - a pólvora foi utilizada pela primeira vez, na Europa, em armas de fogo, no ano de 1346). Valia-lhes a ajuda de um animal que parece ter sido criado para complementar o homem - o cão (Canis Familiaris).

O cão, elemento da família dos Canídeos, é um animal de grupo (de matilha). No estado selvagem, os cães estabelecem, dentro dos grupos a que pertencem, fortes e bem determinadas relações sociais. Nas matilhas, há um chefe (um líder) e um espírito de interajuda e cooperação entre os seus elementos. O cão doméstico, devido à grande facilidade com que transfere essas ligações, passa a cooperar com o homem, como se cooperasse com outros cães.

Assim, uma vez reconhecida a sua liderança, ele está pronto a obedecer-lhe e a ajudá-lo. Forma-se um binómio homem-cão, que tão bem funciona em proveito do primeiro. O "Cão da Serra da Estrela" acompanha o seu chefe, o seu dono, na guarda dos seus haveres, neste caso o rebanho de gado bovino e caprino. Não mais o abandona, subindo à serra quando o gado para aí vai, e calcorreando as longas rotas de transumância, quando os herbívoros que estão sob a sua protecção são obrigados a procurar pastos em zonas mais temperadas.Não se sabe, ao certo, quais os animais silvestres que estes valorosos e valentes cães tiveram de enfrentar. Pensamos, até, que, possivelmente, terão tido como adversários os ursos, que, então, por lá existiam.


Se deixarmos essas épocas tão remotas e nos debruçarmos sobre o que se passava na Serra da Estrela, por exemplo, na última metade do século XIX e na primeira do século XX, podemos compreender o papel fundamental que o lobo (Canis Lupus Signatus) teve no desenvolvimento e aperfeiçoamento desta raça canina autóctone. Nesses tempos, era o lobo o maior predador que habitava a serra e o número deles que lá existia era respeitável. O lobo é, tal como o cão, da família dos canídeos e do género Canis e, por isso, também, um animal de grupo (alcateia). Esses grupos podem ser maiores ou menores, dependendo da área territorial que têm à sua disposição e da quantidade de alimentos que nela encontram.

Quando a alimentação é escassa, há uma adaptação da espécie a essa realidade e os lobos começam a viver aos casais, que se fazem acompanhar dos seus filhotes (lobatos), até à idade de, também, acasalarem. A vivência em casais isolados retira aos seus elementos a possibilidade de caçarem animais de porte superior ao seu. Os gados ovinos e caprinos são alvo da sua cobiça, pela facilidade com que poderão capturar e pela abundância de carne que lhes fornecem.

O seu ciclo circadiano (isto é, o seu comportamento no quotidiano) dá-lhes uma maior actividade crepuscular e nocturna. Aproveitam o dia para descansar nos seus abrigos.Foi contra um animal tão bom caçador e tão bem preparado fisicamente, como o lobo, que os exemplares desta raça tiveram de se defrontar. É certo que os pastores tentavam ajudá-los, colocando-lhes coleiras de bicos metálicos no pescoço, para dificultar as dentadas dos lobos nessa zona anatómica (tão exposta, tão vulnerável e tão vital), mas, mesmo assim, não seria, certamente, tarefa fácil, para os cães, terem de defender os rebanhos dos ataques desses carnívoros.


Para bem exercerem a vigilância que lhes era confiada eles tiveram de desenvolver certas características e comportamentos, de forma a poderem pressentir a presença, por perto, de lobos.Assim, a independência, que os animais desta raça gostam de ter, enraíza na forma como os seus antepassados faziam a guarda do gado. Eles procuravam, por sua iniciativa, sítios altos onde tentavam captar as feromonas (mensageiros químicos odoríferos transportados pelo ar) dos lobos. Se estes fossem detectados nas imediações, logo os cães tentavam proteger os rebanhos, mas de uma forma a não permitir que os carnívoros deles se aproximassem. Para esta forma de actuação, eles necessitavam de liberdade de acção, não podiam estar a cumprir estritas ordens do pastor.

Esta sua forma comportamental faz com que alguns adestradores caninos digam que o "Cão da Serra da Estrela" é difícil de adestrar, pois parece ignorar as ordens e instruções que eles pretendem dar-lhe. O que, de facto, se passa é que os cães desta raça tentam sobrepor a sua vontade à do técnico. Este, para conseguir os seus intentos, não deve desistir e, com paciência, determinação e perseverança, deve continuar o ensino. Surgirá o momento em que o animal obedecerá e, a partir daí, esforçar-se-á por aprender o que se lhe quer ensinar e por cumprir o que lhe é ordenado.

in " http://www.licrase.org/cao.htm
in " http://www.apcse.com.pt/raca.htm
Comentários
"O Covão da Ponte é sem dúvida um daqueles sítios mágicos que nos leva a sentir alguma responsabilidade no momento de o mostrarmos a outras pessoas. A ligação que o espaço estabelece connosco é tal que tudo ali nos faz bem... "
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