Milhafre preto

Milvus migrans


Identificação

O milhafre-preto é uma ave de rapina de grandes dimensões - pode atingir os 60 cm - possuidor de umas grandes asas e uma longa cauda, que termina com uma pequena bifurcação. É facilmente reconhecível seu bico em gancho e pela tonalidade das suas penas, onde predomina a cor castanho acizentada. Alimenta-se de carne morta (e também de peixe quando frequenta a desembocadura dos rios). Nidifica nas árvores, utilizando ramos e desperdícios para fazer o ninho. Reproduz-se entre Fevereiro e Maio, pondo apenas 2 ou 3 ovos, cor creme com manchas castanhas, incubados pela fêmea durante 25/28 dias.

Distribuição

Prefere zonas temperadas e mediterrâneas mas marginalmente pode ocorrer na zona boreal e de estepe, e em ilhas oceânicas em concentrações dispersas sugerindo reincidência (Cramp & Simmons 1980).

Espécie cuja área de distribuição se encontra actualmente confinada ao Paleárctico Ocidental. Na Europa compreende a Alemanha, Áustria, Bélgica, Bielorússia, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Moldávia, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Rússia, Suécia, Suíça e Ucrânia (Snow & Perrins 1998, BirdLife International/European Bird Census Council 2000).

As populações da Europa Setentrional e Central são essencialmente migradoras, invernando ao longo da bacia mediterrânica, enquanto as populações meridionais são residentes ou dispersivas (Cramp & Simmons 1980). A invernada da espécie na Península Ibérica pode considerar-se relativamente importante. Segundo diversos autores (De Juana et al. 1988, Snow & Perrins 1998, Costa 1998, Viñuela et al. 1999), a maior parte dos milhafres-reais que invernam na Península serão originários da Europa Central, particularmente da Alemanha.


Em Portugal é pouco abundante e a sua população nidificante distribui-se ao longo da faixa fronteiriça oriental, distritos de Bragança, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja. A Plano Sectorial da Rede Natura 2000 Fauna, aves população invernante ocorre nessas mesmas áreas mas também de uma forma dispersa por todo o sul do país.

Ecologia

O Milhano-real está associado a zonas de relevo suave (planaltos, planícies, baixa montanha) com vocação/utilização agro-silvo-pastoril. Em Portugal essa paisagem corresponde essencialmente a áreas de aproveitamento cerealífero com criação de ovinos e bovinos em regime extensivo e presença de maciços arbóreos dispersos, de espécies do género Quercus, Fraxinus e Pinus.

Trata-se de uma ave de rapina florestal, que nidifica em árvores, geralmente de grande porte, integradas em pequenos maciços ou mesmo isoladas, como bosques ribeirnhos, lameiros, pinhais, montados de sobro e azinho.

O método de prospecção de alimento baseado em voos de baixa altitude permite-lhe obter alimento em terrenos abertos, como campos agrícolas e pastagens permanentes, mas também nas imediações de explorações agro-pecuárias, povoações, estradas e lixeiras.

Durante a nidificação, o macho dorme de noite nas imediações do ninho, como a fêmea após as crias deixarem o ninho. Por vezes dormem em ninhos de rapinas durante o Inverno (Cramp & Simmons 1980). Os grupos de indivíduos não reprodutores ou durante o Inverno forma por vezes bandos em dormitórios localizados em árvores.

Alimentação

A dieta reflecte a sua aptidão simultaneamente como predador e como necrófago, dividindo-se entre os animais silvestres de pequeno porte (micromamíferos, aves, peixes e invertebrados), os cadáveres de animais (principalmente domésticos e silvestres vítimas de doença ou atropelamento) e os restos e desperdícios urbanos.

Reprodução

Espécie monogâmica. Provavelmente o casal mantém-se constituído durante todo o Inverno. Cada casal ocupa em geral um território mas em zonas de elevada disponibilidade trófica pode formar colónias desagregadas. Os ninhos são feitos em bifurcações nas árvores, a 7-15m acima do solo, usualmente a 1km de distância uns dos outros. Ocupa ninhos de outras aves de rapina florestais e também reutiliza ninhos de anos anteriores (Cramp & Simmons 1980, Fernandes et. al. Plano Sectorial da Rede Natura 2000 Fauna, aves 2002).


O processo nidificante inicia-se em Março com a ocupação de um ninho, entre vários alternativos, ocorrendo a postura durante Abril (1-3 ovos). A incubação dura 31 a 32 dias e a criação dos juvenis no ninho aproximadamente 50 dias. Ambos os progenitores cuidam das crias. Crias nidícolas (Cramp & Simmons 1980). Os juvenis (em geral 2) dependem dos progenitores durante as primeiras semanas após saída do ninho. O processo de nidificação está mal conhecido no nosso país, sabendo-se que na região de Trás-os-Montes se inicia em meados de Abril e finaliza em princípios de Julho.

Factores de Ameaça

O abate a tiro por caçadores/proprietários de explorações agro-pecuárias. O abate directo através do uso de armas de caça constitui, com base nos dados recolhidos no nosso país, a principal causa de mortalidade da espécie, afectando tanto a população sedentária como a invernante.

O uso de veneno. Os hábitos necrófagos desta ave e a capacidade detecção de pequenos cadáveres ou dos seus restos, fazem com que seja bastante vulnerável ao uso de veneno nas campanhas ilegais para controlo de predadores.

A electrocussão em linhas eléctricas de média tensão (15 KV e 30 KV). O Milhano-real deverá ser uma das aves de rapina mais afectadas por esta ameaça, uma vez que as zonas de prospecção alimentar correspondem a áreas rurais onde a rede de distribuição de energia eléctrica está bem representada e constitui uma estrutura atractiva como poiso de caça e dormitório.

A ingestão de pequenos animais vítimas de pesticidas, nomeadamente os raticidas utilizados no combate a pragas agrícolas de Microtus sp. e também no controlo de Rattus sp. nas lixeiras, tem provocado mortalidade nesta espécie em diversos pontos da sua área de distribuição.

A redução da disponibilidade alimentar devido ao cumprimento das exigências higieno-sanitárias, nomeadamente a obrigação de enterrar os cadáveres dos animais de criação e também devido ao encerramento/selagem de lixeiras a céu aberto onde as aves buscavam alimento.

O corte de maciços florestais ou de árvores isoladas de grande porte (lameiros, carvalhais, azinhais, pinhais) para produção de madeira e lenha.


O abandono da agricultura tradicional e consequente perda do mosaico agro-florestal.

A instalação de parques eólicos em corredores importantes para a migração e dispersão de aves pode constituir uma importante factor de mortalidade da espécie através da colisão nas pás dos aerogeradores. A instalação de parques eólicos nas proximidades dos locais de nidificação da espécie está considerada como uma ameaça importante devido à perturbação provocada quer durante a fase de construção (ao nível da abertura de acessos e colocação de infraestruturas), quer durante a fase de exploração, dada a possibilidade de aumento da presença humana associada à abertura de acessos.

Essas unidades de produção de energia eléctrica, dependendo da tipologia e localização dos aerogeradores podem ainda, durante a fase de exploração, constituir uma causa de mortalidade desta espécie devido à colisão nas pás dos aerogeradores. Em especial, se estes forem instalados nas zonas importantes em termos de nidificação e dispersão de juvenis, ou ainda nas zonas de alimentação situadas nas cumeadas das serras. Os traçados eléctricos que estão associados aos parques eólicos constituem outro problema importante devido aos subsequentes riscos de colisão e electrocussão.

A competição com outras rapinas florestais.

in " http://www.ajc.pt/cienciaj/n10/gevt.php3
in " http://www.icn.pt/psrn2000/caracterizacao_valores_naturais/FAUNA/AVES/Milvus%20milvus.pdf
Comentários
"Sendo Beirão, de Peraboa, são espaços e passagens por mim conhecidas. Passei por lá anteontem dia 7 e cada vez fico mais maravilhado. Parabéns para quem permite conhecer tais paragens mesmo que virtualmente! Um abraço"
Vitor Patronilho
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