Rosmaninho
Rosmarinus officinalis L.
Identificação
Quem percorrer os descampados ibéricos meridionais, a sul do Minho e da "Espanha verde" (nome dado às regiões setentrionais da Galiza, Astúrias, Cantábria, País Basco... onde o clima não é mediterrânico), durante os meses de Primavera e Verão, ficará com certeza encantado com os perfumes que lhes enriquecem os ares. E para chamar-lhes "perfumes" é dispensável ter um nariz muito apurado ou um sentido poético das coisas, pois os odores que as ervas e os arbustos que aí encontramos são de facto tão intensos, tão ricos e tão unanimemente apreciados que podemos, com objectividade, dar-lhes esse nome.É difícil percorrer as serras calcárias do Oeste estremenho português sem se cheirar o tomilho ou o alecrim; difícil passar um regato sem detectar o odor da hortelã ou do poejo; impossível correr o sul do Alentejo sem que os vapores da esteva nos acalmem; e muito improvável que nas caminhadas não topemos, mais cedo ou mais tarde, com alguma espécie de rosmaninho. Dizemos "alguma espécie" porque na verdade é possível encontrar cinco espécies de rosmaninho em Portugal, embora o vernáculo as reúna sob um único nome vulgar.
Segundo a nomenclatura empregue pela taxonomia botânica, todos os rosmaninhos pertencem ao género Lavandula L.. (Curiosamente, apesar de a nomenclatura botânica ser redigida em latim, e de o português ser uma língua neolatina, podemos verificar que o género Rosmarinus L., tão abundante em Portugal na espécie Rosmarinus officinalis L., recebeu o nome vernáculo de... alecrim, em lugar de rosmaninho!).
Os rosmaninhos portugueses são todos eles pequenos arbustos lenhosos, facilmente identificáveis pelo aroma (parecido, mas não muito, ao da alfazema da perfumaria) e pelas espigas violetas que coroam a pequena copa. Estas espigas, geralmente pequenas (2 a 8 cm), são compostas por pequenas flores tubulares e labiadas, aninhadas entre brácteas quase da mesma cor, estando o conjunto (no caso das espécies L. pedunculata (Miller) Cav., L. luisieri (Rozeira) Rivas-Martínez e L. viridisér.) completado por três longas brácteas petalóides violetas, lilazes ou brancas que enfeitam o topo da espiga em jeito de penacho.
Localização
Acham-se por quase todas as regiões do país, formando os matorrais que primeiro colonizam os terrenos privados de coberto arbóreo ou arbustivo alto; na Primavera chegam a tingir de violeta enormes extensões de incultos por todo o sul, interior e oeste portugueses. Em Trás-os-Montes, na Terra Quente, crescem acompanhados pela giesta-branca (Cytisus multiflorus (LHér.) Sweet) nos terrenos desnudados por incêndio ou intervenção humana, onde outrora cresceriam associações de sobreiros; na Beira interior acompanhados por tojo-gadanho (Genista falcata Brot.), nos antigos terrenos de carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.); no Oeste estremenho acompanhadas pelo tojo-durázio (Ulex jussiaei Webb) nos solos donde foi eliminado o carvalho-cerquinho (Quercus faginea Lam. ssp. broteroii (Coutinho) A. Camus); e em vários terrenos muito esqueléticos do interior de norte a sul, acompanhado pela roselha-maior (Cistus albidus L.) ou pela cebola-albarrã (Urginea maritima (L.) Baker), frequentemente nos antigos domínios da azinheira (Quercus rotundifolia Lam.).Actualmente são reconhecidas cinco espécies de Lavandula em Portugal: L. luisieri, L. viridis e L. pedunculata (esta última dividindo-se pelas subespécies pedunculata, sampaiana e lusitanica) formam uma secção dentro do género (secção Stoechas Gingins) muito aproximada filogeneticamente; e ainda L. latifolia Medicus e L. multifida L., duas espécies menos abundantes e mais distintas das primeiras.
Dentro da secção Stoechas (que se distingue, para o observador casual, pelas três longas brácteas violetas ou brancas no topo da espiga), L. pedunculata separa-se de L. luisieri pelo longo pedúnculo da inflorescência, e L. viridis distingue-se pela tonalidade verde-amarelado ou branco da espiga e pela intensa concentração de pêlos glândulares. L. pedunculata e L. luisieri abundam no Nordeste, Centro e Sul; L. viridis, bastante menos fácil de encontrar, ocorre apenas e esporadicamente no Sudoeste e Sudeste alentejanos e no Barlavento algarvio.
A espécie L. latifolia cresce apenas nos maciços calcários da estremadura e beira litoral; L. multifida, sendo altamente termófila (isto é, atreita a microclimas mais quentes), e tendo decerto herdado a sua actual distribuição geográfica em função das condições climáticas de passadas épocas glaciares, encontra-se refugiada em pequenas comunidades nas vertentes vertentes expostas a sul da Serra da Arrábida e do vale do Guadiana.s
Exploração Económica
Apesar de tão abundantes no nosso país, os rosmaninhos parecem estar a desaparecer velozmente das tradições portuguesas, particularmente no que respeita à culinária rústica e à aplicação paisagista. Em qualquer hipermercado é possível comprar pouquitos ramos de rosmaninho (geralmente L. pedunculata ou L. luisieri) por duas ou três centenas de escudos, mesmo quando o exterior do próprio estabelecimento está rodeado de matos dessa espécie! E o mesmo se repete para o poejo, o alecrim, a hortelâ, o tomilho... abundantes por tantas ribeiras. Será que as novas gerações de cozinheiros já não conseguem identificar no campo os ingredientes habituais da cozinha vernácula de outrora?E outro tanto sucede nos jardins que a cada passo plantamos... onde se instalam quase sempre espécies exóticas de Lavandula, enquanto noutros países se aprecia bastante ajardinar com as portuguesíssimas Lavandula pedunculata, L. luisieri, e mesmo o rosmaninho-verde (L. viridis), que é praticamente ignorado aquém-fronteiras. Leiam-se, por exemplo, algumas publicações da Royal Horticultural Society para constatar como no mundo do paisagismo anglo-saxónico estas espécies são estimadas.
Por habitar em abundância nas matas do país. É utilizado pela medicina alternativa como esimulante anti-pasmódico e tónico, fabricando-se das suas flores uma infusão (15 por 1000). Esta infusão é também aconselhada para a asma úmida e catarros crónicos.
in " http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=2089&iLingua=1
in " http://www.farmacia-pavia.com/rosma.html
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