Lagartixa da Montanha

Lacerta monticola


Identificação

O corpo da lagartixa da montanha pode atingir um comprimento de 15 cm e a cauda atinge normalmente mais do dobro do comprimento do corpo, excepto quando regenerada. Estes animais são aplanados e têm membros pentadáctilos. As escamas dorsais são geralmente imbricadas, pontiagudas e com uma carena central (saliência longitudinal).

Dorsal e lateralmente apresentam tons pardos ou esverdeados, com duas linhas dorso-laterais nítidas de cor amarelada ou branca. O ventre é esbranquiçado. Por trás da inserção dos membros existem geralmente manchas azuladas. Na região posterior do corpo e começo da cauda, as tonalidades são mais esverdiadas. A coloração dos juvenis é semelhante, embora as linhas dorso-laterais possam não ser tão nítidas.

Distribuição

Presente na metade ocidental da Cordilheira Cantábrica, Sistema Central e Galiza (Ferrand de Almeida et al. 2001, Pérez-Mellado 2002, Martin 2003, MMA 2004, Oliveira et al. em publ.). As três subespécies encontram-se confinadas a regiões geográficas distintas: L. monticola monticola – Serra da Estrela, Portugal; L. monticola cantabrica – Cordilheira Cantábrica e Galiza; e L. monticola cyreni – Sistema Central espanhol (Pérez-Mellado 2002, Martin 2003; MMA 2004).

A população de Lacerta monticola monticola encontra-se restrita ao Planalto Central da Serra da Estrela (Moreira et al. 1999, Oliveira et al. em publ.), estando isolada em relação a outras populações do Sistema Central espanhol, o que a torna particularmente sensível. Distribui-se acima dos 1400 m até ao topo do Planalto Central, mas no próprio Planalto está ausente ou ocorre em densidades muito baixas no sector Este (área envolvente das Penhas da Saúde) e a nortedo Planalto (área envolvente das Penhas Douradas) (Moreira et al. 1999).

Ecologia

Espécie típica de áreas de montanha de substrato rochoso, associada a prados de altitude e matos de urze e giesta e povoamentos de zimbro, embora na Galiza surja em baixas altitudes associada a cursos de água com vegetação ripícola (Ferrand de Almeida et al. 2001, Pérez-Mellado 2002).

L. monticola monticola distribui-se acima dos 1400 m de altitude até ao topo do Planalto Central da Serra da Estrela. Os matos de urze e giestas, relativamente exuberantes aos 1400 metros, sofrem progressiva redução com o aumento de altitude, sendo substituídos por povoamentos de zimbro, formados por plantas baixas e dispersas, e por extensões coberto herbáceo (cervunais e arrelvados) (Moreira et al. 1999). Os habitats do Planalto caracterizam-se igualmente pelo elevado coberto rochoso, que é dominante em certas zonas, aumentando, regra geral, com a altitude.


Certas áreas caracterizam-se pela alternância destes biótopos, criando uns estrutura em mosaico. Na área de distribuição da população a ocorrência de florestas é muito reduzida, já que a cota dos 1400 metros constitui, na Serra da Estrela, o limite superior da distribuição dos povoamentos arbóreos (Pinto da Silva & Teles 1986 in Moreira et al. 1999). Certos habitats destacam-se pelo seu elevado contributo para o efectivo populacional - nomeadamente os que apresentam baixo coberto arbustivo e elevado coberto rochoso (Moreira et al. 1999), situados na zona mais elevada do Planalto Central – totalizando 35% da área total de distribuição e concentrando cerca de 67% do efectivo populacional. Os afloramentos rochosos constituem um elemento essencial de habitat, sendo utilizados como locais de refúgio, invernada e termorregulação (Pérez-Mellado 2002, MMA 2004).

Alimentação

Alimenta-se de insectos e outros artrópodes, apresentando a dieta variações estacionais, em função da disponibilidade, predominando os dípteros, coleópteros, formigas e aranhas, podendo também alimentar-se de larvas de insectos e minhocas (Ferrand de Almeida et al. 2001, Martin 2003).

Reprodução

A maioria das fêmeas atinge a maturidade sexual somente aos três anos, efectuando apenas uma postura por ano, com 2 a 11 ovos, variando em função das condições ambientais (Moreira et al. 1999). O ciclo reprodutor dura cerca de 3-4 meses, estando o seu início sujeito a oscilações condicionadas pela variação anual das condições climáticas. Segundo Moreira et al. (1999), após um período inactivo invernal de 5-6 meses, a época de cópula iniciou-se em meados de Março num ano e em Maio nos restantes anos avaliados, durando cerca de 15 dias e ocorrendo a postura cerca de um mês depois. Os recém-nascidos aparecem em fins de Agosto-Setembro. Mesmo entre cada ano, há variações decorrentes das diferenças de altitude.

Martin (2003) refere o período de reprodução entre Março e Junho, segundo as populações, com uma ou duas posturas com uma média de 6 ovos.


Os machos adultos defendem territórios de tamanho variável, dependendo da densidade da população. Na Serra da Estrela oscilam entre 90 e 200 m2; em Guadarrama e Gredos variam entre 8.5 e 442 m2 (Martin 2003).

A lagartixa-da-montanha apresenta uma longevidade máxima de cerca de 10 anos (Moreira et al. 1999), aumentando a sobrevivência com a idade.

Factores de Ameaça

A elevada concentração espacial da população num tipo de habitat muito específico é por si só um importante factor de ameaça, tornando a espécie particularmente sensível à destruição e fragmentação do seu habitat.

O facto de esta ser única e, aparentemente, não estruturada em diversas sub-populações, poderá constituir uma das mais importantes ameaças à sua persistência a longo prazo. Estes factores contribuem para agravar a situação que resulta do facto da área total da distribuição ser já de si, muito reduzida, pois possibilitam que a actuação de certo tipo de fenómenos, por exemplo epidémicos ou catastróficos, tenham maior probabilidade de afectar toda ou grande parte da população.

A concentração espacial dos efectivos num tipo de habitat muito específico torna igualmente a população muito vulnerável a qualquer intervenção humana que ponha em causa a destruição dos habitats de que a espécie está dependente. Atendendo a que esta população se encontra já isolada e impossibilitada de manter fluxos migratórios com as populações vizinhas, a fragmentação do seu habitat pode levar à divisão em núcleos mais pequenos, com a consequente perda da variabilidade genética.

A crescente utilização das áreas de montanha para actividades de recreio e lazer constitui uma séria ameaça para a espécie. Intervenções em alta montanha, relacionadas com a construção de infraestruturas, em especial para o esqui, alteram o seu habitat de modo irreversível.

Os incêndios ocorridos nos últimos anos na Serra da Estrela, de grandes proporções, podem afectar fortemente esta população, na medida em que ocorreram na área de distribuição da espécie, destruindo uma parte substancial do seu habitat favorável.
Também as queimadas efectuadas para obtenção de pastos para o gado são uma prática habitual na área de distribuição desta espécie, sendo a gravidade deste factor dependente da extensão de terreno queimado e da periodicidade com que ocorre.

in " http://darwin.icn.pt/sipnat/wgetent?userid=sipnat&type=ecran3&codigo=96.006.021.006.011
in " http://www.icn.pt/psrn2000/caracterizacao_valores_naturais/FAUNA/anfibios_repteis/Lacerta%20monticola.pdf
Comentários
"O Covão da Ponte é sem dúvida um daqueles sítios mágicos que nos leva a sentir alguma responsabilidade no momento de o mostrarmos a outras pessoas. A ligação que o espaço estabelece connosco é tal que tudo ali nos faz bem... "
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